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A Páscoa e o seu coelho da paz

Escrito por em Abril 17, 2022

Numa pequena e pacata vila, distante da cidade grande, outrora segura e feliz, imperava o medo e todos tentavam fugir e proteger-se como podiam. Então os protagonistas desta pequena história, encontraram proteção num buraco escuro e húmido dumas escavações abandonadas na orla da floresta.

Agora era o abrigo mais seguro desde que fugiram da barbárie incompreensível que se desenrolava aos olhos do mundo, pois até o frio agreste que os enregelava, deixara há muito de ser sentido. Lá dentro, uma menina, bem juntinho ao regaço da avó, perguntava pelo pai e pela mãe. Seu irmão, um pouco mais velho respondeu, “ Estão a lutar para que voltemos para casa. A mamã no hospital e o pai assustando quem nos quer fazer mal!”.

O casal de velhotes que os acompanhava em tão precário refúgio, não conteve alguns soluços, logo abafados pelos estrondos surdos que faziam zumbir os ouvidos e estremecer tudo à sua volta. Mas a avó, com uma calma arrepiante, encostou a face molhada à cabecita da neta, beijou-a longamente e com a sua voz sussurrante confidenciou, “olha, já não falta muito para tudo isto terminar. Estamos quase na Páscoa e eu quero ir para casa fazer os pastéis, as filhós e os folares que vocês tanto gostam.

O teu pai e a tua mãe também irão ajudar e o avô lá estará para cortar a lenha e fazermos um grande lume para nos aquecermos”. Fez-se uma inesperada e prolongada acalmia. Acendeu-se uma vela, os mais pequenos tinham adormecido, os olhares vidrados, profundos e vermelhos dos mais velhos entrecruzaram-se num silêncio arrepiante de horas sem fim. Seriam passos? Ouviram-se vozes lá em cima.

De repente, uma pequena bola de pelo correu esbaforida e chocou com as pernas do menino. Instintivamente a avó abriu as mãos e agarrou a bola orelhuda e macia. Um …coelho, tão assustado que se conseguia ouvir o bater do seu coração. Os miúdos acordaram e pela primeira vez em muitos dias, soltou-se-lhes um sorriso genuíno, verdadeiro. Logo depois, irrompeu pelo esconderijo outro corpo peludo maior, quiçá atrás do coelho, e desatou a lamber tudo e todos.

Era o Dick, o grande cão de guarda do avô! Surgiu então na abertura do buraco em que se escondiam uma luz forte e por detrás dela a voz rouca do avô. “AHHH! Louvado seja Deus, está aqui gente!”. Saíram com o coração aos saltos, o coelho bem agarrado e o cão louco, ladrando sem parar. “Avô, és tu?”. Já ao ar livre, abraçaram-se e choraram. Percebendo a angústia reinante, uma mulher com uma cruz vermelha no fato informou-os que os maus tinham partido e que se negociava a paz.

O avô com a voz embargada, disse aos pequenos que a mãe estava a tratar de doentes no Hospital e o pai também estava bem. Depois olhou para o coelho de boca aberta e, antes de poder dizer o que quer que fosse, os netos afirmaram, “ Avô, é o coelho da Páscoa que nos veio libertar! O Dick veio atrás dele e depois encontrou-nos! E vocês também!”.

É um singelo conto de esperança que poderia acontecer algures onde faz muita falta um coelho da paz como o da história que vos contei. Quem sabe, talvez na Ucrânia!…

Uma Santa e Feliz Páscoa

José Velez