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Salta a fogueira, escala o pau de sebo e conquista com o alho-porro

Escrito por em Junho 10, 2021

No mês de junho, Portugal está em festa de Norte a Sul do país.

O cheiro floral característico da primavera é vencido pelo aroma libertado pelas sardinhas que ardem, pequenas e gordinhas, na brasa, pelo manjerico e pelo vinho que baila dentro dos copos. As festas dos Santos Populares são desde há muitos séculos vividas com intensidade no país e representam celebrações pagãs da fecundidade e pedidos de sorte para as novas sementeiras. Hoje, estas crenças não estão tão presentes na população, mas o espírito festivo mantém-se muito vivo. Nas noites de Santo António, São João e São Pedro as ruas de muitas localidades enchem-se de gente e todos se divertem em comunhão, sem diferenças de classe social, religião ou idade.

Os bailaricos são parte central nestas festas, mas os santos populares fazem-se também com outros divertimentos, que podem ser praticados por todos. São João é o santo mais rico em costumes aliados à diversão do povo. No largo principal da festa, onde se ergue o mastro para onde confluem todos os balões e flores colocados nas artérias secundárias ao largo, há sempre uma fogueira e um pau de sebo para desafiar os mais corajosos. Um pau de madeira com alguns metros é erigido em direção ao céu depois de untado com banha de animal (hoje menos frequente) ou com cera. Tradicionalmente, o jogo está restrito aos homens que tentavam subir o pau e assim impressionar as donzelas.

A gordura agarrada à madeira dificulta a escalada até ao topo, roubando a quem assiste boas gargalhadas e a quem sobe, algum esforço físico. O objetivo é portanto conseguir chegar ao topo do pau e como recompensa haverá um presente, que varia de localidade para localidade, mas há quem coloque uma nota ou um copo de vinho. As fogueiras em pleno junho têm outra função além da que pode ser mais evidente: aquecer a noite. Em junho, as noites são amenas anunciando o verão quente e não é necessário o fogo para aquecer (além de que a diversão bem regada com vinho também não requer outros aquecimentos). A fogueira é acesa, mais uma vez, para desafiar os rapazes. Saltar o lume dava sorte e era uma oportunidade de se exibirem perante a amada. As fogueiras são, normalmente, pequenas e com um ligeiro balanço saltam-se sem dificuldades acrescidas. Depois da proeza cumprida, ficará mais uma boa história e recordação para contar.

Em terra que se comemore um santo popular, o pau de sebo e a fogueira são indispensáveis, ainda que sejam mais comuns nas comemorações do São João. Outro elemento que anima a festa, dando-lhe colorido e cheiro, são os manjericos. A pequena planta verde liberta um aroma suave mas intenso que deve ser cheirado com a mão. Pousamos a mão sobre o manjerico e depois cheiramos a palma. Diz a sabedoria popular que não se pode cheirar diretamente a planta sob o risco de esta murchar. Realidade ou crendice, o melhor é não arriscar. De brincadeira em brincadeira, numa festa que começa com o pôr-do-sol e termina quando o nascer desta estrela, confluímos para uma tradição vivida com maior expressividade na cidade nortenha do Porto. O São João do Porto passa-se no núcleo antigo e todos levam na mão um martelinho de plástico.

O martelo é aquisição recente e substitui o alho-porro (alho francês) usado antigamente. No entanto, a função é a mesma: acertar com o alho-porro ou o martelinho na cabeça de quem passa. Se na manhã seguinte doer um pouco a cabeça não estranhe que faz parte da tradição e pode ter duas causas: ou pelas marteladas ou pelo excesso de vinho. Tal como nas fogueiras e no pau de sebo estão associados aos alhos-porros rituais de fecundidade. São os homens que batem na cabeça das mulheres, preferencialmente acompanhado de um comentário divertido e não ofensivo. As ruas do Porto são decoradas com balões feitos de papel que serão mais tarde libertados para o ar, tornando o ambiente místico.

Os estudiosos consideram que os balões coloridos que sobem ao ar, as fogueiras e o fogo-de-artifício que ilumina os céus perto da meia-noite são manifestações do culto ao Sol. O último dos santos populares celebrados neste mês de junho, é São Pedro. Fogueiras, pau de sebo, manjericos e muitos bailaricos estão também presentes nas festas em honra do santo padroeiro dos pescadores. Em Vila Real de Trás-os-Montes o santo popular da terra é São Pedro e neste dia há o jogo do panelo. Os rapazes compram púcaros de barro e andam pelas ruas formando aqui e além rodas. Nessas rodas jogam em diferentes direções e alturas, sem aviso prévio, o púcaro para outro membro da roda.

O objetivo é não deixar cair o utensílio de barro que, se tocar no chão, se desfaz e mil pedaços. Normalmente, o início do jogo do panelo tem poucos participantes, mas o desafio pega-se rápido a quem assiste que tenta apressadamente comprar um púcaro e entrar na roda.

Os costumes são muitos nestes dias dedicados aos Santos Populares (13, 24 e 29 de junho), cumprem-se anos de história, mas acima de tudo assegura-se diversão e boa disposição partilhada com a população que não esquece a sardinha assada na rua e colocada no pão e acompanhada com vinho.

 

Por: Sara Pelicano

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